Prezados amigos,
Salve Maria!
Abaixo o sermão da quinta
feira da Paixão e a transcrição do mesmo, proferido pelo Pe. Ernesto Cardozo, em Betim/MG, onde trata
como tema principal a legitimidade da pena de morte.
Fiquem com Deus.
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Transcrição:
“Esta bela passagem do perdão
da Madalena, nos lembra esta frase tão bonita que diz: Lhe são perdoado muito
porque tem amado muito, mas atenção porque não falta os prontos modernistas que
dizem lhe tem amado muito por conta das relações apaixonadas que tiveram. Isso
não é amor, é paixão. Amou muito porque demonstrou. Amou aos pés de Jesus.
Chorando seus pecados e enxugando-os com os seus perfumes e suas lágrimas.
Neste ato está mostrando o amor que teve por Deus e arrependimento dos seus
pecados. Lhe tem perdoado muito porque tem amado muito.
Dias passados tivemos
uma conversa muito interessante, umas semanas atrás estava no México, e como
vocês sabem, México é um pais um pouquinho (...) e tem pessoas no México que
tem pedido, por exemplo, a pena de morte para os seqüestradores, porque
seqüestram crianças, torturam crianças, as meninas e torturam-nas. Então se
discutiu se a pena de morte é uma coisa lícita. E alguns disseram: ‘Não” Não
pode ser uma coisa lícita porque vai contra o V Mandamento: Não matarás’. Então
eu queria dizer-lhes uma coisa: No Antigo Testamento, quanto fala sobre o V
Mandamento diz: ‘Não matarás o justo’. Inclusive, no Antigo Testamento, Deus
manda a pena de morte para alguns casos, por exemplo, um filho que insultasse
seus pais estava condenado a pena de morte. Vejam isso, um filho que
amaldiçoasse os seus pais era condenado a pena de morte. Enfim, e dentre tantos
casos, em caso de adultério também. É lícito ou não é lícito? Clarividente que
sim! Ou seja, a Igreja sempre permitiu com base na Tradição; já no Antigo
Testamento era permitido, e no Novo Testamento também, desde que se cumpra os
limites [requisitos] que se trata de estar certo o máximo possível a certeza da
culpabilidade. Uma vez estava dando uma palestra sobre os Santos Incorruptos,
em Madrid, e havia entre as pessoas que estava ouvido a palestra, um General da
Legião Estrangeira Espanhola e quando acabou a palestra, o General da Legião
Estrangeira me disse: ‘Padre, quando for a Córdova, na Espanha, trate de falar
com o Major Fulano de Tal, ele te vai contar um caso muito interessante. E
assim arranjamos, passei por Córdova, fui a um bairro onde se encontravam os
Legionários já reformados, e pedi para falar com um dos que estavam ai, um dos
alto graus dos Legionários e ele me contou esta história, que vem ao caso:
Espanha tinha um território
que se chamava Ifni, onde hoje é o sul de Marrocos, então, como este era
território espanhol, estava resguardado, embora havia contínuas brigas com os
marroquinos, por um destacamento da Legião Estrangeira Espanhola, que o corpo
do Exército mais bravo da Espanha. E ocorreu que em uma noite, o soldado da
guarda, deixou a guarda para fugir com uma moura. Quando descobriram que este
soldado abandonou a guarda, de acordo com os estatutos da Legião, estava
condenado a pena de fuzilamento. Então, juízo sumário, o fuzilam, e o enterram.
Bem! Passou uma semana deste acontecido, ou um pouco mais, contam que estavam,
num domingo, toda a formação na Missa – estamos a falar da época de Franco –
estavam na Missa os soldados, e o Capitão, dá-se conta que falta um soldado e
este soldado lhe diziam que era Cuqui. Então, quando termina a Missa, o Capitão
vai até Cuqui e diz: ‘Que aconteceu, Cuqui, que não foste a Missa’, ele
responde que não tinha vontade e tal. Não tinha vontade? Bom, ficará uma semana
preso por não ter vontade de ir à Missa. Cuqui se zangou e disse ao Capitão:
‘Ficarei uma semana preso, mas quando eu sair de lá, eu te mato.’. Cuqui cumpre
a semana de prisão e quando sai, vai bater à porta do Capitão e diz: ‘Quem é’,
responde, ‘Sou eu, Cuqui’. O que queres? Vou matar-te! O capitão disse: ‘Não me
perturbe, tome o seu posto e acabou!’. Ele diz: ‘Não! Venho matar-te!’ e o
mata. É claro, prisioneiro, juízo, condenado ao fuzilamento. O Capelão vai ver
Cuqui ao cárcere e lhe diz: ‘Vão matar-te pela asneira que fizeste. Tem que
arrepender-te disso!’. ‘- Não, não me arrependo’. Bom! O capelão, vendo que não queria confessar-se,
não queria arrepender-se, o capelão reúne todo o exército e lhe diz: Vejam! Temos
um problema, Cuqui matou o Capitão de uma forma estúpida e covarde e não quer
se arrepender, então, peço a todos que rezem o terço pedindo a conversão deste
soldado, porque, senão, se condenará ao inferno. E contam que todo o Exército,
inclusive as mulheres dos soldados e dos oficiais que estavam lá, começaram a
rezar o terço pedindo a conversão de Cuqui. Bem, começaram a rezar e ao
terceiro dia, Cuqui pede confissão. Vai o confessor e Cuqui se confessa, se
arrepende da asneira que fez, pede, inclusive que a viúva vá à prisão para ele
pedir desculpas à viúva do capitão que ele matou. Vai, pede perdão à viúva.
Bem! Acontece que Cuqui era um soldado simpático, todo mundo gostava dele,
enfim. Então, os soldados disseram: ‘Porque não pedimos indulto à Madrid, ao
General Franco, porque ele já pediu perdão à viúva, já se confessou...?” Escrevem
à Madrid pedindo indulto do fuzilamento e Franco responde que não. ‘Soldados da
Legião não está num jardim de infância. Tem de ser valente e cumprir-se. Fez
uma asneira, terá de repará-la e tem que fuzilar este soldado.’ Bem. Quem
estava me falando sobre isso, dirigia o pelotão de fuzilamento de Cuqui. Como
ele contava: Ele estava no caminhão, e no caminhão, na carroceria do caminhão,
ia Cuqui sentado no seu próprio caixão, os companheiros de armas com os fuzis,
e quando chega à Praia do Mar – porque na orla do mar é o fuzilamento – um dos
soldados quando desce, tira o fuzil e diz: ‘Eu não vou disparar contra Cuqui.’
e os outros companheiros também mostravam que estavam indispostos a ter que
matar um companheiro. E Cuqui, ou seja, o próprio condenado, lhe diz aos seus
companheiros: ‘Ei meninos! Vocês não são meninas aqui! Vocês são soldados! E
vocês me vão fazer um favor matando-me. Porque eu tenho que pagar com minha vida
a vida que eu tirei injustamente e diante de Deus é assim, tem que ser assim e
eu aceito que seja assim e vocês me vão fazer um grande bem porque me
permitirão a dar a vida em reparação àquela que eu tirei’. Os outros soldados
ficaram pensando, ‘como assim?’. O capitão disse: ‘Vamos, à fila’. Formaram o
pelotão. ‘O que queres, Cuqui, como ato de última vontade?’. Ele diz: ‘Bom,
deixe-me rezar um Pai-Nosso’. Rezou o Pai Nosso. ‘Te vendamos os olhos?’.
‘Não!’. ‘Apontem, fogo!’. Morre! E lhes vão a enterrar-lo ao lado do soldado
que 30 dias antes havia sido fuzilado por ter deixado a guarda. Ou seja, com
uma distância de menos de um metro, de uma tumba da outra. Vejam, passou o
tempo, morre Franco, chega a democracia à Espanha e o Rei perjúrio que tem os
espanhóis dá de presente a terra, esta colônia espanhola que tem na África aos
marroquinos, aos mulçumanos. Então, se manda retirar tudo o que seja católico
deste território, inclusive as tumbas.
Porque? Porque os mulçumanos profanam as tumbas. Então, me dizia o
capitão que tinha dirigido o pelotão de fuzilamento de Cuqui, que ele era
encarregado de retirar as tumbas, tinha um grau maior, já tinha se passado 25
anos e, iam destampando as tumbas e colocando os ossinhos nas caixas e,
destampam a tumba do soldado que havia fugido com uma moura. Juntam os ossos e
põe numa caixa, quando vão destampar a tumba de Cuqui o caixão está feito pó,
mas o corpo de Cuqui está íntegro. E [o capitão] diz: ‘Padre, eu vi isso!
Ninguém me contou, eu vi! Como é possível que um cadáver que está posto a 80
centímetros de outro que, com um mês só de diferença estava feito pó e este
estava como se estivesse sido fuzilado a 15 minutos?. O único sinal de que
havia passado o tempo é que no buraco da bala havia uma teia de aranha. Porque
este corpo estava incorrupto e o outro não se há só 80 centímetros de um a
outro e só uma diferença de 30 dias?’. Eu disse: Veja: Este é um caso
interessante, primeiro, interessante porque o Capelão é um bom capelão que
mandou rezar terços pela salvação deste soldado, porque se o capelão não
tivesse feito isso, quem sabe se ele se salvava? E vejam a força do terço. Todo
o Exército estava rezando por este soldado, e ao terceiro dia este soldado
aceita a confessar-se e se arrepende realmente e assume a sua culpabilidade.
Segundo ponto: É interessante porque a incorruptibilidade de um corpo não se dá
em qualquer um. Grandes santos apenas se dá a incorruptibilidade. E porque Deus
permitiu a incorruptibilidade de um criminoso? Mostrou a incorruptibilidade do
criminoso, dentre outras coisas, porque
este homem havia se arrependido muito porque havia amado muito. Deus lhe deu a
graça de um verdadeiro arrependimento. Forte! Ao ponto tal, e isso se mostra
quando os seus companheiros não queriam fuzilar-lo, e ele os arenga. E diz:
‘ânimo! Vocês tem que me fuzilar, é de justiça!’, então, ai se vê a importância
da reparação do pecado. Ele sabia perfeitamente que havia feito uma asneira e
que teria de dar a sua vida para reparar esta asneira. Então ai se vê a
importância da pena de morte no sentido do bem que faz ao réu. Porque não é o
mesmo que se diga: ‘Menino, tens 48 horas para preparar-te para morrer porque
vão te fuzilar’, ou dizer: ‘você vai apodrecer num cárcere’, ou ‘tens 30 anos
de cadeia’. Vocês sabem que a cadeia não é uma escola de virtudes. Então,
tem-se muitos casos, o caso de São José Cafasso, que lhe chamavam Santo da
forca, ao norte de Turim, na Itália. Este santo estava sempre esperando,
chegavam os grandes criminosos que seriam enforcados e ele estava sempre preparando
para confessar-los no último momento. Isso porque, quanto está com a morte,
cara a cara, já não tem mais vontade de brincar. E isso ajuda muito à salvação
das almas. Isso um dia no céu, veremos. Então, quando estes amigos mexicanos
discutiam se era lícito ou não era lícito a pena de morte, se um desgraçado te
rapta um filho e o destrói, me conte se não vai querer a pena de morte, porque,
inclusive, a pena de morte no ponto de vista persuasivo, é muito importante,
porque quando uma pessoa quer fazer um delito que, por exemplo, vai assaltar um
banco, todos estão pensando o que acontece se a polícia o prende. Se eu vou
fazer este delito e tenho pena de morte, vou pensar muito, muito, muito em
fazê-lo. Mas se é um par de anos, 50, ou dependendo, 20 anos, um bom advogado,
enfim... no México, as coisas andam muito bonitas, muito fáceis e pronto.
Queridos fiéis, quando termos dúvidas sobre uma questão moral, e ver como atua
a Igreja, tem que olhar para trás. Se a Tradição sempre sustentou a pena de morte,
desde que se cumpram os requisitos que determinam os limites. Está bem. Peçamos
o bom Deus que vejamos estas coisas e que tenhamos sempre como referência a
Tradição e se na Tradição teve a pena de morte... e mesmo Cristo que foi
condenado a morte não questiona a pena em si e sim o motivo. Então, não há
ilicitude na pena de morte, desde que seja dada pela autoridade e se cumpram os
preceitos para a justiça claramente possível. Que a Virgem Santíssima, Sede da
Sabedoria, nos dê essa sabedoria para fortalecer a nossa fé. Ave Maria
Puríssima.”