Geovanne Maria Moreira.
Evang. São João XVI,1 |
Prezados amigos,
Salve Maria!
Vamos direto ao assunto: A
“comunidade (neo)conservadora” e adepta às Missas Tridentinas celebradas de
acordo com o Motu
Proprio Summorum Pontificum dado pelo Papa Bento hoje estão comemorando
mais um ano de aplicação do aludido documento.
Do que se trata? Trata-se
de Missas de indulto. O que acontece? Em linhas gerais (e não vou me ater a
isso) após a deforma (ou reforma, como queiram) da Liturgia implementada pelo
Papa Paulo após as diretrizes do último Concílio, em vigor desde 1970, impunha um rito protestantizado e,
nalgumas partes, até gnóstico a ser rezado como se fosse um sacrifício perfeito a ser oferecido do
nascente ao poente.
Bom, em 1984, o Papa João
Paulo editou um indulto (Quattuor abhinc
annos) a fim de que as pessoas que quisessem ter missas conforme a Igreja
sempre celebrou, pudesse recorrer ao seu bispo local e suplicar.
Em 07 de julho de 2.007,
passando a efetiva aplicação em 14 de setembro de 2.007, o Papa Bento lança mão
de um Motu Proprio a fim de regular a petição de Missas Tridentinas, agora, sem
a necessidade de que haja autorização do Ordinário local, bastando que o padre
da sua paróquia, ouvindo os apelos dos seus fiéis e não se dirigindo contra os
anseios dos planos pastorais da sua Diocese, ceda.
Veja, amigos, que os
termos acima utilizados, que são retirados do Documento, bem como das falas dos
padres e bispos, são totalmente amplos e modernóides. Enfim, não me aterei a
isso. O que nos importa é o seguinte: Rejubilaram, os neo-conservadores de
plantão quando da promulgação do aludido Motu Proprio, sendo que agora, não é
mais necessário rogar ao Bispo local para ter a Missa de Sempre.
Acontece que, a Missa,
conforme a Igreja sempre celebrou, nunca-jamais foi ab-rogada, tampouco abolida.
Perguntarão: Como assim? O Missal Paulino não suplantou o de Trento? Por certo que não! É preciso
esclarecer que a Missa de Sempre, é dada pela Bula
Quo Primum Tempore, do Papa São Pio V e não pelos indultos que os papas, de
1970 até hoje, vem concedendo.
E para piorar a situação,
o Papa Bento, no Motu Proprio, rotula a Missa de Sempre (a missa que santificou
inúmeros Santos) de Rito Extraordinário...
E põe como rito ordinário a missa
fabricada por Paulo VI. Tem que ser muito modernista para lançar mão de termos
tão desqualificatórios para nomear a Missa de Sempre...
Pois bem. Agora, eis um
grande problema: O padre agora pode celebrar a Missa de Sempre, sem autorização
do ordinário local, e etc. Mas este (coitado) padre pode dizer às claras dos
defeitos da Missa Nova e de como ela foi confeccionada e imposta? Este padre
poderá dizer das asneiras que Francisco vem dizendo desde o dia da sua eleição
ao bispado de Roma? Este padre poderá
tratar de temas polêmicos como maçonaria eclesiástica? Acredito que não, meus
caros. Acredito que não. E se dizer uma virgula, sequer, no outro dia lhe será
proibida a Missa. Isso porque está atrelado à (falsa) autoridade do Bispo
local, onde se prefere obedecer a Hierarquia do que a Deus. Sobre isso, leia e
veja aqui.
A respeito das Missas de
indulto, Mons. Lefebvre nos advertia:
“Eles
se esforçam por propagar a Missa de indulto, mas com a finalidade de aproximar
os fiéis da Missa nova e da doutrina de Vaticano II.”
Pois então, meus amigos,
nada temos que comemorar no dia de hoje. Nada temos que nos jubilar, antes, o
contrário. Como um dos últimos atos de derrocada da Tradição na Igreja foi esse
Motu Proprio ofertado pelo Papa Bento que continua o seu trabalho incessante de
destruição da Igreja de Deus.
Rezemos por todos que
ainda estão presos à esta falsa obediência e apegados à extremos legalidades.
A respeito das Missas de padres juramentados, abaixo um belíssimo texto sobre a vida de São João Maria Vianney que viveu tempos semelhantes aos nossos.
A respeito das Missas de padres juramentados, abaixo um belíssimo texto sobre a vida de São João Maria Vianney que viveu tempos semelhantes aos nossos.
Que a Virgem das Dores nos
proteja.
*********
O Santo Cura D’Ars
Francis Trochu (Páginas 17 a 28)
Um Pastorzinho durante o Terror (1793 – 1794)
Em janeiro de 1791, época em que a
Constituição Civil entrou a vigorar na comarca de Lion, João Maria ainda não
tinha completado cinco anos. O P. Jaques Rey, cura de Dardilly durante 39 anos,
cometera a fraqueza de prestar o juramento cismático. Mas, a dar-se crédito as
tradições locais, esclarecido pelo exemplo do coadjutor e dos colegas vizinhos,
que haviam recusado o tal juramento, não tardou muito em compreender e detestar
sua falta. Permaneceu ainda por algum tempo na
paróquia celebrando a missa numa casa particular, retirando-se depois para
Lion. Mais tarde teve que exilar-se na Itália.
Se a saída do P. Rey não passou
despercebida, Dardilly, contudo não foi perturbada ao ponto que se poderia
esperar. A igreja continuou aberta, pois veio outro sacerdote, enviado pelo
novo bispo de Lion, certo Lamourette, amigo de Mirabeau, nomeado pela
Constituição, sem mandato de Roma, em lugar do venerável Mons. Marbeuf. O novo
cura como também o novo bispo haviam prestado o juramento; mas como poderia
suspeitar a boa gente de Dardi1ly que a Constituição Civil, da qual ignoravam,
talvez, o próprio nome, pudesse conduzi-los ao cisma e a heresia? Nenhuma mudança aparente se havia
operado, quer nas cerimônias, quer nos costumes paroquiais. As pessoas simples
de coração assistiram por algum tempo sem escrúpulos a missa do "padre
juramentado". Do mesmo modo procedeu com toda a boa fé Mateus Vianney, a
esposa e seus filhos.
Entretanto abriram-se-lhes os
olhos. Catarina, a mais velha das filhas, posto que naquela época não contasse
mais de uma dúzia de anos, foi a primeira pressentir o perigo. No púlpito, o novo pároco nem
sempre tratava dos mesmos assuntos como o P. Rey. Os termos cidadãos, civismo, constituição, pontilhavam suas prédicas. As
vezes descambava em ataque contra seus predecessores. Cada vez mais a afluência
à igreja era menos homogênea e apesar disso mais minguada do que outrora;
pessoas mui piedosas não compareciam mais aos ofícios divinos. Onde, pois,
ouviam missa nos dias de festa? Pelo contrário iam outros que nunca haviam
frequentado o templo. Catarina sentiu certos receios e os manifestou à mãe. As
coisas andavam nesse pé, quando os Vianney receberam a visita de um parente que
residia em Ecully. "Ah!
meus amigos, que fazeis?" perguntou-lhes ao ver que assistiam a missa do
padre "juramentado". "Os bons sacerdotes recusaram o juramento,
por isso são caçados, perseguidos, obrigados a fugir. Felizmente em Ecully, há
alguns que ficaram entre nós. A estes é que vos deveis dirigir. O vosso novo cura
separou-se da Igreja Católica com o seu juramento. Não é de modo algum vosso
pastor e não o podeis seguir".
Como que fora de si por essa
revelação, a mãe de João Maria não trepidou em interpelar o infeliz sacerdote e
censurar-lhe a apostasia da verdadeira Igreja. Ao citar-lhe o Evangelho, onde
está escrito que o ramo separado da videira será lançado ao fogo, levou-o a
seguinte confissão: - "É verdade, senhora, a videira vale mais do que o
sarmento". Maria Vianney deve ter explicado aos seus a falta daquele padre,
pois conta-se que o pequeno João Maria
"mostrou horror por esse pecado, começando dali por diante a esquivar-se
do cura juramentado" . Desde então a igreja paroquial, relicário de
tão suaves recordações, onde os pais se haviam casado e os filhos recebido o
batismo, deixou de ser para a família Vianney lugar predileto de oração. Não
tardou muito a ser fechada.
*
Chegaram, porém, os dias da
sangrenta perseguição. Todo sacerdote que não prestasse juramento se expunha a
ser encarcerado e executado, sem recurso possível, dentro de 24 horas. Quem os
denunciasse receberia cem libras de recompensa. Quem, ao contrário, lhes desse
asilo, seria deportado. Assim rezavam as leis de 24 de abril, 17 de setembro e
20 de outubro de 1793.
Apesar dessas
ameaças terríveis, os sacerdotes fiéis andavam escondidos pelos arredores de
Dardilly, e a casa dos Vianney ocultou a todos, um após outro. Em algumas
ocasiões celebravam nela a santa missa. Foi um milagre o dono da casa não ter caído na suspeita de alguns
jacobinos, pagando com a cabeça a sua santa audácia. Mas foi mesmo em Lion ou
nos seus arrabaldes que os confessores da fé receberam, com mais frequência,
generoso abrigo.
Mensageiros de confiança, enviados
de Ecully, passavam em certos dias pelas casas das famílias católicas e lhes
indicavam o esconderijo, onde na noite seguinte haveriam de ser celebrados os
divinos mistérios. Os Vianney partiam, sem ruído, e andavam,
muitas vezes, por longo tempo na escuridão da noite. João Maria, todo feliz por
ir àquela festa, valentemente meneava as perninhas. "Os irmãos murmuravam
de vez em quando, achando a distância demasiada, mas a mãe lhes dizia:
"Imitem a João Maria que nunca se cansa".
Chegados ao lugar combinado, eram
introduzidos num paiol ou quarto retirado, quase às escuras. Ao pé de pobre
mesa, rezava um desconhecido cujo semblante fatigado esboçava suave sorriso.
Depois dos cumprimentos, no canto mais escuro, detrás duma cortina, em voz
baixa, o bom padre aconselhava, tranquilizava e absolvia as consciências. Não
raro jovens noivos pediam que lhes abençoasse o matrimônio. Enfim, chegava a
hora da missa, a missa tão desejada por grandes e pequenos. O padre dispunha
sobre a mesa a pedra d'ara que trouxera consigo: o missal, cálice e numerosas
hóstias, pois não seria só ele a comungar naquela noite. Revestia-se com
paramentos amarrotados e desbotados. Depois, envolto por silêncio profundo,
começava as preces litúrgicas, lntroibo
ad altere Dei. Que unção na voz, que recolhimento
e que comoção a da assistência! Frequentemente misturavam-se as palavras santas
os contínuos soluços do celebrante, Dir-se-ia uma missa nas catacumbas antes da prisão e do martírio. Como se
comovia naqueles momentos inesquecíveis a
alma do pequeno Vianney! De joelhos, entre a mãe e as irmãs, orava como um anjo
e chorava por ouvir chorar. Além disso, com que atenção escutava, sem
compreender nada, os graves ensinamentos daquele proscrito que arriscava a vida
por amor às almas. Não teria sido naquelas reuniões noturnas que ouvira, pela
primeira vez, o chamado ao sacerdócio?
1793. O Terror. Em Lion corria o
sangue. Na Praça dos Terrores, a guilhotina não descansava. O proconsul Chalier
havia inscrito 20 mil lioneses nas suas listas de proscrição. Uma revolta
popular, chefiada por De Précy, fez subir aocadafalso o próprio proscritor. Os católicos se
limitavam a esperar, quando um exército da Convenção, sob o comando de Couthon
e Dubois-Crance pôs sítio à cidade. De 8 de agosto a 9 de outubro, De Précy
resistiu valentemente e só se rendeu pela fome. O pequeno de 7 anos não se
podia dar conta exata de tais acontecimentos. Do campo da casa paterna,
ouvia-se muito bem o ruído do combate. Dubois-Crance estava acampado nos
arredores de Limonet, alguns quilômetros ao norte de Dardilly, e os soldados da
Revolução passavam de contínuo pelo povoado. Mas os ruídos da guerra
inquietavam menos ao piedoso menino do que o obstinado silêncio dos sinos. A
igreja continuava fechada. Pelos caminhos havia só os pedestais dos cruzeiros:
de Lion vieram homens para derrubar as cruzes." Em casa era necessário
esconder cuidadosamente os crucifixos e as imagens religiosas. Somente nos
verdadeiros fiéis, o santuário dos corações permanecia inviolado. João Maria
não se desfez da sua pequena imagem da Virgem; guardou-a com mais precauções do
que nunca, levando-a ao campo num bolsinho do casaco.
*
A primeira confissão, a primeira
Comunhão (1794 - 1799)
Infelizmente a igreja continuava
fechada. Houve certo momento de esperança com a morte de Robespierre. A
perseguição perdeu muito de sua violência. O decreto
do ventoso (3 ventoso, ano
III, 21 de fevereiro de 1795) ab-rogava o culto do Ser Supremo, inaugurado pela
Convenção e suprimia a Constituição Civil do Clero. Mas, depois destes meses
(11 prairial, 30 de maio), novo decreto dispunha "que ninguém poderia
desempenhar o ministério de algum culto religioso (nas igrejas que ainda
poderiam ser abertas) a não ser que antes fizesse ato de submissão às leis da
república". O velho cura de Dardilly, P. Rey, não havia aparecido, nem
outro sacerdote não juramentado para tomar conta da paróquia. A família Vianney, que não
simpatizava com nenhum padre sujeito ao decreto de 30 de maio, continuava a
ouvir a missa em casas particulares. Até
o fim de 1794 os padres
católicos que permaneceram
na comarca de Lion não chegavam a trinta. Apesar da pena de morte, asseguravam
o serviço religioso, ainda que sem ordem nem continuidade, ora aqui, ora acolá,
por não lhes ser possível fixar residência. A França convertera-se em tem de
missão e mesmo em algo pior.
Não obstante, fazia-se sentir a
necessidade duma ação organizada. Se Mons. De Marbeuf achou que era seu dever
emigrar, o vigário geral, P. Linsolas, disfarçando-se, não abandonou a cidade. No começo de 1794, dividiu a
paróquia em grupos paroquiais, e, em cada grupo, designou missionários,
coadjuvados por catequistas leigos. Ecully
ficou sendo um centro missionário, ao qual pertencia Dardilly. Conservam-se os
nomes dos confessores da fé que exerceram naquela região tão heroico
ministério. Foram, em primeiro lugar, dois sacerdotes sulpicianos, Pe. Royere
Chaillon, antigos dirigentes do seminário maior; depois, um religioso, arrancado
do seu convento pela tempestade revolucionária, o P. Carlos Balley, a quem
teremos ocasião de ir conhecendo no decurso deste livro. Enfim, o P. Groboz:,
cura da paróquia de Sainte- croix, que tendo fugido para a Itália transpôs
novamente os Alpes para substituir, de algum modo a tantos colegas condenados à
morte. Esses quatro padres viviam separados, dispersos em Ecully. Por motivo de
precaução, adotaram um oficio que aliás exerciam bem pouco. Sabemos que o P.
Bal1ey trabalhava de marceneiro e o P. Groboz de cozinheiro. As
ferramentas e utensílios que carregavam davam-lhes certa aparência diante do
povo eram explicação suficiente de suas idas e vindas. Não saíam quase a não
ser ao cair da tarde, indo por caminhos esquivos ao lugar combinado, onde diziam
missa.
Com que
respeito João Maria contemplava no altar aqueles homens envelhecidos antes do
tempo, que traziam no semblante os sinais de tantas fadigas e de tantas
privações suportadas pelas almas! A eles mesmos chamou a atenção
aquele menino de límpidos olhares que orava com tanto recolhimento e com tanto fervor.Certo dia, no ano de 1797, o Pe. Groboz
passou por Dardilly e visitou a casa dos Vianney. Abençoou as crianças uma após
outra. Perguntou a João Maria:
- Quantos anos têm?
- Onze anos.
- Desde quando não te confessas?
- Eu nunca me confessei, replicou
todo admirado.
- Pois façamo-lo agora mesmo.
João Maria ficou a sós com o padre
e começou a sua primeira confissão. "Sempre me lembro dela, dizia mais
tarde; foi em casa ao pé do relógio". De que pecados se poderia ter
acusado? É de crer que a perfeita candura daquela alma de criança maravilhou o
sacerdote que Deus enviara para receber suas confidências. Foi para o sacerdote
uma revelação. Era necessário para aquela criança instrução religiosa mais
completa. Poderia encontrá-la com as damas catequistas instaladas secretamente
em Ecully. Não custou muito ao P. Groboz convencer os pais. João Vianney não
poderia, pois, ficar por alguns meses, em casa de Margarida Beluse, irmã de sua
mãe, casada com Francisco Humbert?
Qualquer razão de força maior -
provavelmente a obrigação de enviar ainda por algum tempo o menino a escola do
Sr. Dumas, fez com que fosse adiado para o ano seguinte
a execução desse desejo. Finalmente, pelos meados de maiode 1798, Maria Vianney levou para Ecully o seu
predileto. Ficou combinado que a tia Margarida hospedaria o sobrinho, mas que
os pais dariam a roupa e o alimento. Graças a esse arranjo, João Maria pode ver
frequentemente na casa doPoint-du-Jour -
era esse o simpático nome da casa o pai, a mãe, irmãos e irmãs.
Duas religiosas de S. Carlos, as
irmãs Combes e Deville, cujo convento não existia mais, encontraram refúgio em
Dardilly. Os missionários confiaram-lhes a delicada tarefa de prepararem as
crianças para a primeira comunhão.
João Maria foi instruído por elas
juntamente com outros quinze.
O grande dia foi precedido por um
retiro. Durante esse tempo o jovem Vianney parecia todo abismado em Deus. “Já
naquela idade, disse mais tarde Fleury Véricel, de Dardilly, nós o olhávamos
como a um santinho”. Rezava, rezava e não se comprazia em outra coisa.
"Vede, diziam os colegas, dando-lhe um apelido que por certo provinha da
fama de Mateus Vianney, vede o pequeno "Gorducho" que faz
concorrência ao seu anjo da guarda".
Estamos no ano de 1799,
"durante o segundo Terror" no tempo em que se corta o feno. A
indecisão, que havia seguido à queda de Robespierre, não durou muito; os católicos ainda continuavam a
ser perseguidos; os padres morriam às centenas; eram deportados para as
Guianas, internados nos porões de Rochefort, de Ré ou de Oléron.
O S. Padre Pio VI, ancião de 82
anos, estava prisioneiro da Revolução. O Calendário republicano continuava a
vigorar e a "década" substituía o domingo. As nossas belas festas religiosas, tão
consoladoras para o povo, permaneciam proscritas e tentava-se substituí-las por
ridículas cerimônias. Era
ainda necessário esconder-se para orar a Deus. Em Ecully, a casa daquela que
daqui em diante chamaremos Pingon, possuía vastas dependências. Foi esse o
lugar escolhido pelos P.P. Groboz e Balley, para celebrarem a festa das
crianças, festa celestial e esplendorosa, radiante de luz em tempos pacíficos,
mas que o povo ignorava naquele fim de primavera. De manhãzinha os 16 meninos
de Dardilly, que iam comungar, foram conduzidos separadamente, em trajes
ordinários, para uma grande sala, cujas portas e janelas estavam bem fechadas,
pois os meninos tinham cada um sua modesta vela e não convinha que fossem
vistos de fora. Para maior precaução, puseram diante das janelas algumas
carretas cheias de capim, e durante a cerimônia, para dissimular melhor, vários
homens se ocupavam em descarregá-las. As mães levaram com muito cuidado, sob os
chalés, os véus e os laços brancos. Cada qual aprontava o pr6prio filho para a
visita divina. João Maria contava treze anos completos. Alma de um senso
espiritual já mui apurado, podia bem apreciar o dom que acabava de receber.
Tinha fome de Cristo e as tristes circunstâncias haviam tomado ainda mais
distante aquele dia.
Recebeu a Eucaristia com o coração
cheio de fé, desejo e grande amor: "Eu estava presente, contava Margarida
Vianney. Meu irmão estava tão contente que não queria mais sair do lugar onde
teve a felicidade de comungar pela primeira vez". Sem dúvida, havia muito,
viviam no seu interior aquelas palavras que haveriam de sair tão ardentes de
seus lábios sacerdotais: "Quando a gente comunga, sente algo de
extraordinário... um gozo...uma suavidade...um bem-estar que corre por todo o
corpo e o faz estremecer... somos obrigados a dizer como São João: Eis o Senhor!... Oh! meu Deus, que alegria para um
cristão que se levantando da mesa sagrada vai com todo o céu no coração".
Mais tarde, não falava de sua
primeira comunhão sem verter lágrimas de saudosa ternura. Passados 50 anos,
mostrava aos meninos de Ars o modesto rosário de neo comungante, exortando-os a
conservarem cuidadosamente os seus como lembrança preciosa.
No mesmo dia voltou com os pais
para Dardil1y. Passara o tempo da infância e o tempo dos estudos. Ainda que
crescesse lentamente, era forte para sua idade. Os trabalhos caseiros da granja
e do campo já o reclamavam. Desde então embalsamou mais do que nunca a casa paterna
com o perfume de suas virtudes. O aspecto franco, a atenciosa afabilidade que o
levava a saudar cortesmente a todo mundo, acabaram por ganhar os corações de
todos.