E AS CONVERSÕES “IN
EXTREMIS”
Pe. Garrigou-Lagrange, L1éternelle vie et la
profondeur de l’ame.
Tradução: Rafael
Horta
Como
toda nossa vida na eternidade depende do estado da alma no momento da morte,
urge falar da impenitência final, que se opõe a boa morte e, por contraste,
falaremos também das conversões “in
extremis”.
A
impenitência de um pecador cifra-se na ausência ou privação da penitencia que
devia destruir nele as consequências morais do pecado ou da revolta contra
Deus. Estas
consequências do pecado traduzem-se na ofensa feita a Deus, na corrupção da
alma revoltada e desorientada, nos justos castigos que mereceu.
Destroem-se
as consequências do pecado através da reparação satisfatória, isto é, pela
dor de ter ofendido a Deus e mediante a compensação expiatória. Como diz
Santo Tomás (1),
requerem-se estes atos da virtude da penitencia para a salvação do pecador;
exige-nos a justiça e a caridade para com Deus e também a caridade para conosco
próprios.
A
impenitência traduz-se na ausência de contrição e satisfação; pode ser
temporal, se se considera no decurso da vida presente, e final, se se refere ao
momento da morte. Convém ler o sermão de Bossuet sobre o endurecimento, que é o castigo dos pecados precedentes (2).
O QUE É QUE NOS
PREDISPÕE PARA A IMPENITÊNCIA FINAL
A
impenitência temporal predispõe-nos para a impenitência final. Pode revestir-se
de duas formas muito diferentes: impenitência
de fato, isto é, simples ausência de arrependimento; e impenitência de vontade, resolução
positiva de não se arrepender dos pecados cometidos. Neste último caso, há
pecado especial de impenitência que, no seu grau mais elevado é um pecado de
malícia, que se comete, por exemplo, ao assinar um contrato de enterro civil.
A
diferença entre estas duas formas é considerável sem dúvida. Se a alma se vê
surpreendida pela morte no simples estado de impenitência de fato, dá-se a impenitência final, sem que se tenha preparado
diretamente para um pecado especial de endurecimento.
A
impenitência temporal de vontade conduz
diretamente à impenitência final, embora Deus, por um ato de misericórdia
especial, preserve desta muitas vezes. Por este caminho de perdição, pode
chegar-se a querer permanecer no pecado deliberada e friamente, repelindo a
penitencia que dele nos livraria. Como dizem Santo Agostinho e Santo Tomás (3), está espécie de impenitência
constitui, nessa altura, não só um pecado de malícia, mas também um pecado
contra o Espírito Santo, isto é, um pecado que vai diretamente contra o que
poderia salvar o pecador.
Este
deve, pois, fazer penitencia no tempo próprio, por exemplo, no tempo da
comunhão pascal, de outro modo passará da impenitência de fato para a
impenitência de vontade, ao menos por omissão deliberada. Santo Tomás diz que
tanto mais necessário voltarmos a Deus, quanto é certo que não podemos
permanecer muito tempo no pecado mortal sem cometermos novos pecados, os quais
apressam a queda (4).
Portanto,
não devemos esperar pela morte para nos arrependermos. A Escritura impele-nos a fazê-lo
sem demora: “Não espere pela morte para
cumprires” (Ecles., XVIII, 21). São João Batista, na sua pregação, não
cessava de falar na urgente necessidade do arrependimento (Luc., III, 31).
Jesus repete-o igualmente desde o começo de seu ministério: “Fazei penitencia e crede no Evangelho” (Marc.,
I, 15). Mais tarde ainda: “Se não
fizerdes penitencia, todos perecereis do mesmo modo” (Luc., XIII, 5). São
Paulo escreve aos Romanos (II, 5): “Com a
tua dureza e coração impenitente acumulas para ti um tesouro de ira no dia da
ira e justo juízo de Deus que há de dar a cada um segundo suas obras”.
No
Apocalipse (II, 16) diz-se ao anjo da Igreja de Pérgamo: “Faze igualmente penitencia; de contrário, virei a ti livremente”. Anuncia-se
assim a visita da justiça divina, para a hipótese de não termos em conta a
visita da misericórdia.
A impenitência
temporal voluntária registra
numerosos graus (5).
Partindo
dos menos graves que, todavia, já são muito perigosos, encontramos o grau dos endurecidos por ignorância culposa, que
se fixam no pecado mortal e na cegueira que certamente os leva a preferirem
os bens temporais aos bens da eternidade. Bebem da iniquidade como se fosse
água, com uma consciência adormecida ou sonolenta porque sempre
descuraram gravemente o conhecimento dos deveres indispensáveis à salvação.
Há muitas pessoas nesta condição. Deparamos depois com os endurecidos por covardia, os quais, mais esclarecidos e mais
culpados que os anteriores, não tem energia para quebrar os laços da
luxúria, da avareza, do orgulho e da ambição que criaram para si mesmos.
Não pedem, na oração, a energia que lhes falta. Vêm por último, os endurecidos por malícia,
designadamente aqueles que nunca rezam e se revoltam contra a Providencia,
após alguma infelicidade, ou ainda os escarnecedores envolvidos nas suas
desordens, blasfemadores descontentes por tudo e por nada; materialistas que,
se mencionam Deus, é para o injuriarem; e, finalmente, os sectários, que
manifestam ódio constante contra a religião cristã e não cessam de atacá-la com
seus escritos.
Entre
uns e outros há muita diferença, evidentemente. Todavia, não se pode afirmar
que, para chegar a impenitência final, seja preciso um endurecimento por
malícia ou, ao menos, um endurecimento por covardia ou por ignorância
voluntária. Não podemos afirmar que Deus use de misericórdia para com todos os
outros pecadores menos culpados.
Também
não podemos dizer que serão condenados todos os endurecidos por malícia, porque
a misericórdia divina converteu, por vezes, grandes sectários que pareciam
obstinados no caminho da perdição (6).
Os
Padres da Igreja, porém, e depois deles
os melhores pregadores, ameaçaram muitas vezes com a impenitência final aqueles
que se recusam a converter-se ou adiam a sua conversão sempre para mais tarde (7). Depois de terem abusado tanto
das graças de Deus, terão eles socorro eficaz, necessário à conversão?
Levantam-se muitas dúvidas.
A CONVERSÃO É
DIFÍCIL, MAS REALMENTE POSSÍVEL
O
endurecimento que a cegueira pressupõe, a perversão do discernimento e uma tal
predisposição da vontade para o mal, que o bem já quase não atrai, tornam a
conversão bastante difícil. Já não se
tira proveito dos bons conselhos ou dos sermões, já não se lê o Evangelho nem
se frequenta a Igreja; resiste-se mesmo às advertências salutares de pessoas de
bem. O coração torna-se duro como uma pedra. Isaías tem também algumas palavras
para os que se encontram neste estado (V. 20-21): “Infelizes daqueles que chamam bem ao mal e mal ao bem, que fazem das
trevas luz e da luz trevas, que tornam amargo o que é doce e doce o que é
amargo! Infelizes daqueles que são sábios aos seus próprios olhos e
inteligentes em sua própria opinião”.
Tudo
isso se deve a pecados reiterados, hábitos viciosos, a ligações criminosas, a
leituras nas quais se bebe claramente o erro, fechando os olhos à verdade. Depois de tantos abusos da
graça, sucede que o Senhor recusa ao pecador não somente o socorro eficaz de
que fica privado todo pecador habitual no momento em que cai, mas também a
graça proximamente suficiente, que tornaria possível a observância dos
mandamentos.
E,
no entanto, ainda se pode dar a conversão. O pecador endurecido recebe ainda graças suficientes remotas, por
exemplos, durante uma missão ou por altura de uma provação. Mercê desta graça
suficiente remota, não pode ainda cumprir os preceitos mas já pode começar efetivamente a rezar. As coisas passam-se deste modo, porque a
salvação ainda lhe é possível e,
contrariamente à heresia pelagiana, só é possível pela graça; se o pecador não
resistir a este apelo, será levado de graça em graça até a conversão. Deus, com
efeito, disse: “Não quero a morte do ímpio,
mas que se desvie de seu caminho e viva”. (Ez. XXXIII, 14-16). E São Paulo
tem estas palavras: “Deus quer que todos
os homens se salvem e atinjam o conhecimento da verdade”. (Tim. II, 4).
Dizer, como Calvino, que Deus, por um decreto positivo predestina certos homens
para a condenação eterna, recusando-lhe qualquer graça constitui outra heresia
contrária à anterior. O Concílio de Trento manda-nos dizer o que dizia Santo
Agostinho (Denz. 804): “Deus não manda o
impossível, mas, ao dar-nos os seus preceitos, aconselha-nos a fazer o que
podemos e a pedir-lhe a graça para cumprir o que não podemos”. Ora, o
pecador endurecido tem ainda, enquanto viver na terra, a obrigação grave de
fazer penitencia, impossível de cumprir sem a graça. Urge, pois, concluir que
recebe de tempos em tempos as graças suficientes para começar a rezar.
Porém,
se o pecador resiste a essas graças, começa a atolar-se, como quem se aventura
na areia movediça. Quanto mais tenta
desembaraçar-se mais os seus pés se afundam. A graça suficiente passa ainda, de
tempos em tempos, como uma brisa, para lhe renovar as forças, mas se ele
continua a resistir, ver-se-á privado da graça eficaz que acompanha a graça
suficiente, como o fruto acompanha a flor. E depois, obterá ele mais tarde este
socorro eficaz que toca o coração e converte verdadeiramente? As dificuldades
aumentam, as forças da vontade declinam e as graças diminuem.
A
impenitência temporal voluntária predispõe-nos manifestamente para a
impenitência final, embora a misericórdia divina às vezes preserve desta, in extremis, muitos pecadores
endurecidos.
A MORTE NA IMPENITÊNCIA
Pode
morrer-se em pecado mortal, sem que se tenha apresentado ao espírito o
pensamento de tal morte. Há muitos
homens que morrem subitamente, sem se arrependerem dos pecados graves que
tinham cometido. Costuma dizer-se que depois de terem abusado de muitas graças,
foram surpreendidos pela morte. Nunca
tiveram em conta os avisos recebidos. Nunca sentiram a contrição nem sequer a
atrição dos pecados que, através do sacramento da penitencia, os teria
justificado. Estas almas perderam-se para sempre. Verificou-se a
impenitência final, sem recusa especial e prévia de se converterem no último
momento.
Se,
pelo contrário existiu tal recusa, trata-se
de impenitência final aceite, querida, através da rejeição última da graça
oferecida antes da morte pela misericórdia infinita. Trata-se de um pecado
contra o Espírito Santo, que assume diferentes formas: o pecado pode ou recuar
diante da humilhação da confissão dos pecados e preferir portanto a
infelicidade pessoal, ou então chegar a desprezar explicitamente o seu dever de
justiça ou de reparação para com Deus, recusando-lhe o amor que a Ele se deve
como preceito supremo: “Amarás o Senhor
teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças
e com todo teu entendimento”. (Luc., X, 27). Lições tão terríveis como
estas mostram nos a necessidade do arrependimento,
diferente do remorso, que subsiste no
inferno sem a menor atrição. Os condenados não se arrependem dos pecados, com
ofensas feitas a Deus, mas porque foram punidos por causa desses pecados. Gostariam de não sofrer a pena que
justamente lhes foi infligida e sentem-se roídos por um verme que nasce da
podridão do pecado que não podem ver e que os torna descontentes com tudo e
consigo mesmos. Judas sentiu remorso, que o lançou na angustia, mas não passou
pelo arrependimento, que dá a paz; caiu no desespero, em vez de se confiar à
infinita misericórdia e pedir perdão (8).
Constitui,
portanto, um grave risco adiar-se a conversão para mais tarde. Monsanbré diz a
este respeito (9): “Suprema lição de
previdência: 1° Para aproveitar a última hora é necessário podê-la reconhecer.
Ora, quando chega a última hora, tudo concorre, muitas vezes, para a dissimular
ao pecador: as suas próprias ilusões, a covardia, a negligencia, a falta de
sinceridade daqueles que o cercam; 2° Para aproveitar a última hora, no caso de
se pressentir, seria preciso converter-se; ora, há grande probabilidade de o
pecador não querer. A tirania do hábito marca os últimos desejos com o ferrete
da irresolução. As dilações calculadas do pecador alteram a sua fé e tornam-no
cego para ver o seu estado. A última hora aproxima-se sem que ele se mova e
morre, de fato, impenitente. 3° Para aproveitar a última hora, se alguém quer
converter-se, é preciso que a sua conversão seja verdadeira e, por isso,
precisa da graça eficaz. Ora, o pecador retardatário nos seus cálculos, não tem
em conta a graça, mas somente sua vontade. E se tem em conta a graça, faz tudo
o que pode para a afastar no último momento, ao especular negligentemente com a
misericórdia de Deus. E, então, alcançará ele o verdadeiro desgosto da ofensa
feita a Deus, um verdadeiro e generoso arrependimento? O pecador retardatário
já não sabe o que é a penitencia e corre grande risco de morrer no seu pecado. O
que, portanto, há a fazer é assegurar desde já o benefício de uma verdadeira
penitencia, não venha ela a faltar na altura em que se decide a nossa sorte
para toda a eternidade” (10).
AS CONVERSÕES “IN EXTREMIS”
Os
pecadores renitentes que, no último momento, imediatamente antes da separação
da alma e do corpo, não dão mostras algumas de contrição, nem mesmo assim podem
dizer-se definitivamente perdidos.
Só
Deus pode saber se não se terão convertido à última hora. O Santo Cura d’Ars,
divinamente inspirado, disse a uma viúva vinda pela primeira vez à sua igreja,
debulhada em lágrimas: Senhora, a sua oração foi atendida. O seu marido salvou-se. Acabava ele de lançar-se no
Ródano, quando, segundos antes de sua morte, a Virgem lhe obteve a graça da
conversão. Lembrai-vos que um mês antes, no vosso jardim, ele colheu a rosa
mais bela e disse: “leva-a ao altar da Virgem. Ela não o esqueceu”.
Outras
pessoas se converteram in extremis, as
quais não se lembravam de ter feito nada, além da prática de qualquer ato
religioso no decurso de sua vida; por exemplo, um marinheiro havia conservado o
hábito de se descobrir, ao passar em frente de uma igreja; não sabia o Padre-Nosso nem a Ave-Maria, mas conservava ainda este laço que o impedia de se
afastar definitivamente de Deus.
Lê-se
na vida do santo bispo de Tulle, Bertau, amigo de Luís Veuillot, que uma pobre rapariga
da cidade, antiga participante do coro na catedral, caiu na miséria e depois na
imoralidade, como pecadora pública. Foi assassinada, uma noite, numa das ruas
de Tulle. A polícia encontrou-a na agonia, à porta do hospital. Morreu com
estas palavras na boca: “Jesus, Jesus”! perguntaram
ao bispo: “Deverá fazer o funeral
religioso?” Resposta dele: “Sim,
porque morreu pronunciando o nome de Jesus. Mas enterrai-a de manhã, muito cedo
e sem incenso”. No imundo quarto da infeliz encontraram o retrato do santo
bispo de Tulle. Tinha escrito no verso: “O
melhor dos pais”. Embora tivesse caído, reconhecera a santidade do seu
bispo e conservava no coração a lembrança dos benefícios do Senhor.
Um
escritor licencioso, Armando Silvestre, prometera a sua mãe, quando ela morreu,
rezar todos os dias uma Ave-Maria. Naquele
lamaçal, que era a vida do infeliz escritor, desabrochava todos os dias a flor
da Ave-Maria. Adoeceu gravemente com
uma pneumonia. Levaram-no para um hospital de Paris, servido por religiosos. Perguntaram-lhe
eles: “Quereis um sacerdote?” – “Sim” – respondeu.
E recebeu a absolvição, provavelmente com uma atrição suficiente, devido a uma
graça especial que devia ter obtido da Virgem. É provável que tenha entrado logo
a seguir num longo e penosíssimo purgatório.
Outro
escritor francês, Adolphe Retté, pouco depois da conversão, sincera e profunda,
ficou impressionado por ver em um escapulário esta legenda: “Rezai por aqueles que vão morrer durante a
Missa que ides assistir”. Fê-lo de bom grado. Alguns dias depois, adoeceu
gravemente. Ficou imobilizado em um leito do hospital de Beaune, muitos anos,
até a morte. Todas as manhãs oferecia seus sofrimentos pelos que iam morrer
nesse dia; obteve muitas conversões in
extremis. Ao chegar ao céu, havemos de conhecer o número dessas conversões.
E cantaremos a misericórdia de Deus eternamente.
Conta-se
na vida de Santa Catarina de Sena, a conversão in extremis de dois grandes criminosos. A santa tinha ido visitar
uma amiga. Ouvira-se na rua onde esta morava um grande ruído. A amiga de
Catarina olhou pela janela e viu que se tratava de dois condenados à morte,
conduzidos em uma carroça ao derradeiro suplício. Como os atormentavam com
tenazes aquecidas ao rubro, blasfemavam e soltavam horrorosos gritos de raiva. Catarina
põe-se, ali mesmo, imediatamente de joelhos e reza com os braços em cruz, pela
conversão dos dois criminosos.
Eis
senão quando, na rua, cessaram as blasfémias e os criminosos manifestaram o
desejo de se confessarem. As pessoas presentes ficaram espantadas com tão súbita
mudança; ignoravam que uma santa tinha rezado para obter a dupla conversão.
Há
cerca de sessenta anos, o capelão da prisão de Nancy, que até ali tinha conseguido
converter todos os criminosos que acompanhava à guilhotina, encontrava-se em um
carro celular com um assassino apostado em não se confessar antes de morrer. A viatura
passa em frente de um santuário de Nossa Senhora do Socorro. Então, o velho
capelão diz: “Lembrai-Vos, ó piedosa e
dulcíssima Virgem Maria que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que têm
recorrido à Vossa proteção fosse por Vós desamparado. Convertei este criminoso,
senão direi que se ouviu dizer que não nos atendestes”. E o criminoso
converteu-se imediatamente.
A
conversão é sempre possível até a morte, mas torna-se cada vez mais difícil à medida
que aumenta a obstinação. Sendo assim, o melhor é não adiar nunca a conversão e
pedir todos os dias, por meio da Ave-Maria,
a graça de uma boa morte.
Notas:
1 – III, q. 84, a. 5 e
85.
2 – Avent de
Saint Germain et Défense de la Tradition, I. XI, c. IV, V, VI, VII, VIII.
3 – II, II, 1. 14.
4 – I, II, q. 109, a.
8.
5 – Cfr. Santo Tomás,
I, II, q. 76-78; II, II, q. 15, a. 1; Dic.
Teol. Catol., art. Impenitencia. c.1283.
6 – Na vida de são João
Bosco, vêmo-lo aproximar se do leito de um moribundo, maçon inveterado. Este diz-lhe:
“Não venha me falar de religião; senão,
eis um revolver com uma bala para ti e outra para mim”. Nessa altura – Diz Dom
Bosco – falemos de outra coisa. E passou a falar-lhe da vida de Voltaire. Já quase
no fim, diz: “Há quem afirme que Voltaire
não se arrependeu e teve uma morte má. Eu não digo nada porque não sei”. –
Então o maçon inquiriu: “Até Voltaire
pôde arrepender-se?” – “Sim” – “Nesse caso, também eu poderia arrepender-me
ainda?” E aquele homem, que estava desesperado, parece ter tido uma boa
morte. – Cita-se o caso de um capelão de prisão, santo sacerdote, que, ao
assistir a um criminoso que não queria confessar-se antes de morrer, acabou por
lhe dizer: “Bem! Se queres perder,
perde-te”. Tratou-se da beatificação deste capelão, mas não pôde ser
beatificado por ter dito aquilo. Devia, até ao último momento ter falado da misericórdia
e da possibilidade da conversão a Deus.
7 – Cfr Santo Ambrósio,
De Penitentia, c. X-XII; São
Jerônimo, Epist. 147 ad Sabinianum; Santo
Agostinho, Sermões, 351 – 352, Da
utilidade de fazer penitencia; São João Crisóstomo, 9 Homilias sobre a penitencia, P. G. t. XLIX, col. 277 e segs.; São
Bernardo, De conversione ad clericos; Bossuet,
Sermão para o primeiro domingo do
Advento.
8 – Cfr. Santo Tomás,
II, II, q. 13, a. 4; III, q. 86, a. 1; C.
Gentiles, l. IV, c. 89.
9 – Retiros pascais em Notre-Dame, instrução
3°.
10 – Não se esqueça que
a atrição, que dispões a receber bem o sacramento da penitencia e leva a
justificação deve ser sobrenatural. Segundo o Concílio de Trento, ela pressupõe
a graça da fé e da esperança e deve
detestar o pecado como ofensa feita a Deus (Denz., 798). Ora isto supõe,
provavelmente, como o batismo dos adultos, um amor inicial a Deus, fonte de
toda justiça (Denz., 798). Com efeito, não podemos detestar a mentira sem amar
a verdade nem detestar a injustiça sem começar a amar a justiça e aquele que é
fonte de toda a justiça.