Nossa angústia permanece por
nossos filhos e amigos, exilados de centros tradicionalistas nos quais a missa
tradicional é preservada; aqueles que são obrigados por circunstâncias várias a
viver longe de padres tradicionalistas e de sacramentos; nossa angústia perene
por milhões de fiéis católicos (ou já ex-católicos) que perderam há muitos anos
contato com ambientes de fé e sacramentos preservados, sobretudo pela
observância tradicional, por padres formados como sempre o foram pela Igreja
Católica, idêntica a si mesma pelos séculos afora, essa angústia que nos
acompanha sempre, filhos enjeitados por hierarcas furiosamente obstinados
contra nós, levou-nos à surpreendente observação relativa às palavras de Nossa
Senhora em Fátima como relata Irmã Lúcia, em entrevista, ao Padre Fuentes
conforme relato publicado no “O Cruzado de Fátima” (versão em inglês) de
Fevereiro/Abril de 1986:
“Padre, a Santíssima Virgem não
me disse que nós estamos nos últimos tempos do mundo mas ela me fez entender
isso por 3 razões:
A primeira razão é que ela me disse que o demônio está
pronto para empenhar-se em batalha decisiva contra a Virgem. Uma batalha
decisiva é a batalha final em que um dos lados será vitorioso e o outro sofrerá
uma derrota. Assim, desde já, devemos escolher nosso lado. Ou seremos a favor
de Deus ou a favor do diabo. Não há outra possibilidade. A segunda razão é que ela me disse, assim como meus primos, que
Deus está oferecendo dois últimos remédios ao mundo. Estes dois remédios são o
Santo Rosário e a Devoção ao Imaculado Coração de Maria. Estes serão os dois
últimos remédios o que significa que não haverá outros.
A terceira razão é que nos planos da Divina
Providência, Deus sempre exaure todos os remédios antes de castigar o mundo.
Quando, porém, ele vê que o mundo não lhes presta qualquer atenção, então...
Ele nos oferece, com um “certo receio”, os últimos meios de salvação, isto é,
Sua Santíssima Mãe. Ele o faz com um “certo receio” porque se alguém despreza e
repele estes últimos meios, não terá mais perdão dos céus porque terá cometido
um pecado que os Evangelhos chamam de pecado contra o Espírito Santo”.
Estas palavras foram transcritas em artigo
publicado também pelo jornal Catholic editado em Victoria, Austrália,
por alguém que adota o pseudônimo literário de Charles Martel. O autor do
artigo, com muita propriedade, pergunta: — “Porque
Nossa Senhora oferece, como últimos meios de salvação, a si mesma e ao Santo
Rosário e não a Santa Missa?” A Santa Missa que, acrescentamos nós, autores
do porte de Garrigou-Lagrange e muitos outros mestres de espiritualidade nos
apresentaram sempre como o centro de nosso dia-a-dia, principal instrumento de
nossa santificação? A razão, prossegue aquele autor, parece ser a previsão de
que o “Sacrifício Perpétuo” desapareceria, como parece ser o caso atualmente.
Ele se refere às palavras proféticas de Daniel que
foram citadas por Nosso Senhor, Ele mesmo, (Mateus 24, 15) e que podemos
encontrar em Daniel 9, 27: “... e, no meio da semana, fará cessar a hóstia
e o sacrifício; e estará no templo da abominação da desolação; e a desolação
durará até a consumação e o fim (do mundo)”. (o texto entre parêntesis é da
Vulgata). E também em Dan. 11, 31: “... E estarão ao seu lado os braços que
farão cessar o sacrifício perpétuo e porão no templo a abominação da desolação”.
Ora, em
nossos tempos, justamente, percebemos que o sacrifício perpétuo cessou. Não
temos missas. As missas progressistas, ainda que utilizem (nem sempre)
textos que não podemos demonstrar serem geradores de missas inválidas, são
missas provavelmente inválidas por falta de intenção do sacerdote de fazer o
que a Santa Igreja sempre fez e, além disso, constituem ocasião propícia à
perda da fé como já assinalamos em artigo publicado em Permanência n° 136-137
em que Mons. Lefebvre formalmente desaconselha a assistência à missa nova mesmo
se o sacerdote parece sério, porque esta missa é sempre ocasião próxima e de
alto risco de perda de fé. Assim, hoje, para os que procuram defender a fé,
missa tradicional é algo extremamente raro (pelo menos em países como o nosso),
jóia preciosa que buscamos com fervor quando podemos. Mas, ai de nós, para
muitos de nós e de nossos filhos, não podemos nada em muitos lugares onde
vivemos exilados, privados de sacramentos, de missa, de assistência
eclesiástica, porque os padres e bispos progressistas, que julgam que não têm
obrigações quanto à fé porque estão — alegam — “unidos ao Papa”, estes nos
execram e nos rejeitam sem piedade e sem remorso. E de quanta angústia se faz
nosso dia-a-dia quando vemos os filhos e sobretudo os netos privados de
formação religiosa adequada, sem ambiente religioso, sem missa, sem
sacramentos! Que Nosso Senhor nos valha. E Ele, como vemos, com a ajuda dos que
bem escrevem sobre o assunto, para nos socorrer, para nos consolar, previu,
predisse, providenciou com antecedência, o aviso prévio e o socorro prévio:
nossos instrumentos de salvação para os últimos tempos serão a recitação do
Santo Rosário (ou, pelo menos do terço) e a devoção ao Imaculado Coração de
Maria. Com estes instrumentos seremos santificados, com eles seremos salvos. E
que não nos aflija a falta de missa ou sacramentos ou formação religiosa:
façamos o que pudermos com aquilo que nos foi dado, lembrando-nos de que é a
Nossa Senhora que está confiada nossa assistência nesses tempos apocalípticos e
que ela, Mãe e Santificadora nossa, conhece nossas necessidades e foi posta não
apenas para socorrer-nos nas coisas fundamentais que dizem respeito à fé mas
até mesmo nas pequenas necessidades de nossa vida quotidiana como ficou bem
claro na passagem das Bodas de Caná. É a ela que devemos recorrer, com ela que
devemos contar e nela procurar socorro e instrumentos de salvação para aquilo
que nos ameaça, para a crise de nossos tempos apocalípticos e para o abandono
em que nos encontramos por parte de pastores e hierarcas que nos manifestam sua
ojeriza bem claramente. Não nos pedirá ela mais do que podemos fazer e, ao
contrário, nos dará muito mais do que podemos merecer. Que Nossa Senhora nos
socorra. Imaculado Coração de Maria, sede a nossa salvação.
(Permanência, no. 258-259,
Maio-Junho de 1990)
(Não contem
grifos nos originais)